As petições. Ah, as petições, as petições… O que seria deste mundo sem as petições? O que seria do Rui Santos sem uma petição? Provavelmente, apenas mais um viciado em gel barato, aos caídos pelo Intendente, ressacando pela sua dose diária de azeite. É uma pergunta que ele pode deixar a si próprio para responder no próximo programa.
As petições, hoje em dia, são conhecidas pela enorme relevância que assumem no caos democrático em que vivemos. Por exemplo, Rui Santos conseguiu mobilizar para a sua petição personalidades tão afastadas do futebol como Almeida Santos, Bárbara Guimarães ou Cuíkeh Flores.
Há quem pense que as petições são coisa nova. Mas não. Pelos menos, já desde os tempos da queda do Muro de Berlim que circulavam petições por aí. Eis três exemplos.
1 – Petição “Meninas Não Entram Em Chaves”
Em 1991, Slavkov deslumbrava nas margens do Tâmega. Com os seus passes desenhados a régua e esquadro e bolas que faziam cuchi-cuchi às redes, Slavkov levava todo o povo flaviense a sonhar de olhos abertos. Pudera. Os olhos não se podiam distrair daqueles postes de iluminação com publicidades monstruosas a uma entidade de construção civil com um nome tão catchy como era a ACCIOP. Mas, lá no fundo, Slavkov não andava bem. Sentia falta do velho bigode que personalizava a mística transmontana. Ultimamente, o balneário andava tão imberbe que até a mais pueril das ginastas da ex-RDA faria um figurão. Radi, Zdravkov para os amigos, tinha abalado e com ele levado um pouco do coração de Slavkov. É que Radi (não confundir com Rudi, por favor) era dono de um excelso bigode de inspiração bárbara que era capaz de mobilizar toda uma horda de guerreiros sedentos de bom futebol apenas com um pequeno esgar, como podemos constatar neste pictograma de 1988:
Este bigode era capaz de motivar todo um balneário, toda uma equipa, toda uma região. É certo que Diamantino, o capataz flaviense, possuía um bigode de fazer inveja a qualquer taberneiro que assa frangos de mangas arregaçadas com um avental da Scotch-Brite. Todavia, Diamantino já anunciara a sua retirada e a sua total dedicação ao negócio de enchimento de alheiras. Foi então que Slavkov, não conseguindo esconder o seu défice de carinho atrás do seu rosto quadrado, fez passar a sua petição, requisitando mais pilosidades infra-nasais no Desportivo local, de preferência farfalhudas.
Paulo Alexandre foi logo o primeiro a assiná-la, convencido que só o bigode de Manuel Correia seria insuficiente para assegurar a consistência do eixo defensivo. Lila também assinou de bom grado, pois tudo o que distraísse o público do seu nome que fazia pesadelos a Fernando Seara era bem-vindo. Depois Rudi assinou por simpatia. Vule assinou de cruz. E todos os outros se seguiriam, incluindo o próprio Diamantino, ciente que o seu testemunho seria passado a um rosto suficientemente viril.
O resultado final: um enorme sucesso. Chaves foi presenteado não com um, mas sim com dois bigodes – o portuguesíssimo Tavares e o obscuro búlgaro Tanev, recrutado numa taberna de Plovdiv. Agora Slavkov podia sorrir outra vez. Mas não o fez. Porque Slavkov jamais sorria.
2 – Petição “Mais Sal Para o Futebol Madeirense”
Na pérola do Atlântico, os canários piavam fininho. Isto porque havia pouca substância futebolística na torre de Babel em que se tornara o União. Entre balões e desmarcações desconexas, Markovic discutia com Lepi, este barafustava com Jairo, Jairo repreendia Dragan enquanto este se agastava com Stilic, e Nelinho, o português, perdido no meio, dizia “hã?”. O que faltava em golos sobrava em confusão.
Vai daí, Nelinho, pequeno no nome mas com enorme espírito de resistência, empreendeu uma petição em que clamava pelo verdadeiro sal do futebol: os golos. Para tal, precisava que a direcção reforçasse o clube com mais trunfos.
Nelinho explicou a questão aos colegas, em português. Isto levou cada um deles a interpretar à sua maneira a explicação de Nelinho. Por exemplo, Markovic escondeu a Bíblia do Marco Aurélio no cacifo do Valadas e Edilson começou a correr à volta do campo sem objectivo aparente. Mas Nelinho lá conseguiu recolher um número aceitável de assinaturas, não contando todavia com a receptividade de Matias, que protestou “Qu’esta m**da, car***o?!?”.
A direcção sensibilizou-se e respondeu com a contratação do equatoriano Quiñonez. E depois com o brasileiro Manu. Nelinho exasperava com as dificuldades de comunicação. O sal do futebol continuava ausente. Até que a direcção, farta das exigências de Nelinho, arranjou-lhe o mais próximo que conseguiu:
Não foi sal, foi Pimenta. E, curiosamente, este nem sequer marcava golos, quanto muito tentava evitá-los com o seu portentoso par de sobrancelhas.
Nelinho, desalentado, acabou por desistir das petições. Dedicou-se antes a cursar sérvio, espanhol, algum búlgaro pelo sim pelo não e linguagem gestual, na qual se graduou com distinção.
3 – Petição “Se Um Caccioli Incomoda Muita Gente, Dois Cacciolis Incomodam muito Mais”
Milton Caccioli, a calva mais conhecida do Minho, elevou-se desde cedo à condição de mito – facto reconhecido humildemente pela Cromos da Bola, SAD. A sua presença em campo significava um bom espectáculo. Hoje a sua presença fora de palco significa uma boa pizza. Caccioli estava de facto destinado para grandes feitos. Os adversários tremiam com o brilho da sua careca refulgindo ao sol e os colegas bebiam os raios de luz que saíam dos seus pés sob a forma de bolas de Berlim carregadas de açúcar e creme. A cabeça de Caccioli apenas pensava em futebol, passes rasgados e tabelinhas mágicas, pelo que nem havia espaço para o cabelo crescer em terreno futebolisticamente tão fértil.
Cientes que Caccioli era o Rei Midas de Famalicão, o plantel apressou-se a engendrar uma estratégia de capitalização do seu maior activo – ou seja, seria possível multiplicar o efeito-Caccioli? O plantel elaborou uma petição nesse sentido e a resposta foi um retumbante “sim”.
Não foi sequer preciso recorrer a gente rebuscada, como políticos, músicos ou apresentadores de TV. Nada disso: a resposta estava no próprio plantel. O seu nome era Luís Miguel. Podia ter sido um Carlos Alberto ou Pedro Alexandre qualquer, mas o escolhido foi Luís Miguel. Uma vez designado por unanimidade o novo Caccioli, Tanta, Lula e Ben-Hur retocaram Luís Miguel. Deram-lhe uns encontrões, cortaram-lhe o cabelo à chapada, pisaram-no aqui e acolá, mandaram-lhe uns quantos berros bem dados e Luís Miguel ficou pronto.
Estava lá tudo: a pose, a calvície e o olhar de desafio ao sol. Luís Miguel era a sósia que Caccioli nunca sonhou ter no próprio plantel.
Mas Luís Miguel não aguentou a responsabilidade. Não estava preparado para ir aos céus tão repentinamente. Ao fim de seis jogos, os seus nervos quebraram e Luís Miguel ficou feito em fanicos. Há quem diga que foi o Tanta, o Menad desconfiou do Lula, o Ben-Hur assobiou para o ar. O certo é que Luís Miguel não conseguiu ser o Caccioli que todos desejaram. A petição, contudo, tinha sido um sucesso sem paralelo.
As petições, hoje em dia, são conhecidas pela enorme relevância que assumem no caos democrático em que vivemos. Por exemplo, Rui Santos conseguiu mobilizar para a sua petição personalidades tão afastadas do futebol como Almeida Santos, Bárbara Guimarães ou Cuíkeh Flores.
Há quem pense que as petições são coisa nova. Mas não. Pelos menos, já desde os tempos da queda do Muro de Berlim que circulavam petições por aí. Eis três exemplos.
1 – Petição “Meninas Não Entram Em Chaves”
Em 1991, Slavkov deslumbrava nas margens do Tâmega. Com os seus passes desenhados a régua e esquadro e bolas que faziam cuchi-cuchi às redes, Slavkov levava todo o povo flaviense a sonhar de olhos abertos. Pudera. Os olhos não se podiam distrair daqueles postes de iluminação com publicidades monstruosas a uma entidade de construção civil com um nome tão catchy como era a ACCIOP. Mas, lá no fundo, Slavkov não andava bem. Sentia falta do velho bigode que personalizava a mística transmontana. Ultimamente, o balneário andava tão imberbe que até a mais pueril das ginastas da ex-RDA faria um figurão. Radi, Zdravkov para os amigos, tinha abalado e com ele levado um pouco do coração de Slavkov. É que Radi (não confundir com Rudi, por favor) era dono de um excelso bigode de inspiração bárbara que era capaz de mobilizar toda uma horda de guerreiros sedentos de bom futebol apenas com um pequeno esgar, como podemos constatar neste pictograma de 1988:
Este bigode era capaz de motivar todo um balneário, toda uma equipa, toda uma região. É certo que Diamantino, o capataz flaviense, possuía um bigode de fazer inveja a qualquer taberneiro que assa frangos de mangas arregaçadas com um avental da Scotch-Brite. Todavia, Diamantino já anunciara a sua retirada e a sua total dedicação ao negócio de enchimento de alheiras. Foi então que Slavkov, não conseguindo esconder o seu défice de carinho atrás do seu rosto quadrado, fez passar a sua petição, requisitando mais pilosidades infra-nasais no Desportivo local, de preferência farfalhudas.
Paulo Alexandre foi logo o primeiro a assiná-la, convencido que só o bigode de Manuel Correia seria insuficiente para assegurar a consistência do eixo defensivo. Lila também assinou de bom grado, pois tudo o que distraísse o público do seu nome que fazia pesadelos a Fernando Seara era bem-vindo. Depois Rudi assinou por simpatia. Vule assinou de cruz. E todos os outros se seguiriam, incluindo o próprio Diamantino, ciente que o seu testemunho seria passado a um rosto suficientemente viril.
O resultado final: um enorme sucesso. Chaves foi presenteado não com um, mas sim com dois bigodes – o portuguesíssimo Tavares e o obscuro búlgaro Tanev, recrutado numa taberna de Plovdiv. Agora Slavkov podia sorrir outra vez. Mas não o fez. Porque Slavkov jamais sorria.
2 – Petição “Mais Sal Para o Futebol Madeirense”
Na pérola do Atlântico, os canários piavam fininho. Isto porque havia pouca substância futebolística na torre de Babel em que se tornara o União. Entre balões e desmarcações desconexas, Markovic discutia com Lepi, este barafustava com Jairo, Jairo repreendia Dragan enquanto este se agastava com Stilic, e Nelinho, o português, perdido no meio, dizia “hã?”. O que faltava em golos sobrava em confusão.
Vai daí, Nelinho, pequeno no nome mas com enorme espírito de resistência, empreendeu uma petição em que clamava pelo verdadeiro sal do futebol: os golos. Para tal, precisava que a direcção reforçasse o clube com mais trunfos.
Nelinho explicou a questão aos colegas, em português. Isto levou cada um deles a interpretar à sua maneira a explicação de Nelinho. Por exemplo, Markovic escondeu a Bíblia do Marco Aurélio no cacifo do Valadas e Edilson começou a correr à volta do campo sem objectivo aparente. Mas Nelinho lá conseguiu recolher um número aceitável de assinaturas, não contando todavia com a receptividade de Matias, que protestou “Qu’esta m**da, car***o?!?”.
A direcção sensibilizou-se e respondeu com a contratação do equatoriano Quiñonez. E depois com o brasileiro Manu. Nelinho exasperava com as dificuldades de comunicação. O sal do futebol continuava ausente. Até que a direcção, farta das exigências de Nelinho, arranjou-lhe o mais próximo que conseguiu:
Não foi sal, foi Pimenta. E, curiosamente, este nem sequer marcava golos, quanto muito tentava evitá-los com o seu portentoso par de sobrancelhas.
Nelinho, desalentado, acabou por desistir das petições. Dedicou-se antes a cursar sérvio, espanhol, algum búlgaro pelo sim pelo não e linguagem gestual, na qual se graduou com distinção.
3 – Petição “Se Um Caccioli Incomoda Muita Gente, Dois Cacciolis Incomodam muito Mais”
Milton Caccioli, a calva mais conhecida do Minho, elevou-se desde cedo à condição de mito – facto reconhecido humildemente pela Cromos da Bola, SAD. A sua presença em campo significava um bom espectáculo. Hoje a sua presença fora de palco significa uma boa pizza. Caccioli estava de facto destinado para grandes feitos. Os adversários tremiam com o brilho da sua careca refulgindo ao sol e os colegas bebiam os raios de luz que saíam dos seus pés sob a forma de bolas de Berlim carregadas de açúcar e creme. A cabeça de Caccioli apenas pensava em futebol, passes rasgados e tabelinhas mágicas, pelo que nem havia espaço para o cabelo crescer em terreno futebolisticamente tão fértil.
Cientes que Caccioli era o Rei Midas de Famalicão, o plantel apressou-se a engendrar uma estratégia de capitalização do seu maior activo – ou seja, seria possível multiplicar o efeito-Caccioli? O plantel elaborou uma petição nesse sentido e a resposta foi um retumbante “sim”.
Não foi sequer preciso recorrer a gente rebuscada, como políticos, músicos ou apresentadores de TV. Nada disso: a resposta estava no próprio plantel. O seu nome era Luís Miguel. Podia ter sido um Carlos Alberto ou Pedro Alexandre qualquer, mas o escolhido foi Luís Miguel. Uma vez designado por unanimidade o novo Caccioli, Tanta, Lula e Ben-Hur retocaram Luís Miguel. Deram-lhe uns encontrões, cortaram-lhe o cabelo à chapada, pisaram-no aqui e acolá, mandaram-lhe uns quantos berros bem dados e Luís Miguel ficou pronto.
Estava lá tudo: a pose, a calvície e o olhar de desafio ao sol. Luís Miguel era a sósia que Caccioli nunca sonhou ter no próprio plantel.
Mas Luís Miguel não aguentou a responsabilidade. Não estava preparado para ir aos céus tão repentinamente. Ao fim de seis jogos, os seus nervos quebraram e Luís Miguel ficou feito em fanicos. Há quem diga que foi o Tanta, o Menad desconfiou do Lula, o Ben-Hur assobiou para o ar. O certo é que Luís Miguel não conseguiu ser o Caccioli que todos desejaram. A petição, contudo, tinha sido um sucesso sem paralelo.
7 comentários:
E fazer uma colecção de cromos goleados pelo Benfica?
http://aguia-de-ouro.blogspot.com/
O Quiñonez do União não era equatoriano e não colombiano? A wikipedia responde-me afirmativamente.
União da Madeira 1990-91 treinado pelo imberturbável Rui Mâncio. Metia qualquer Nélinho ou tuga na linha.. Ai deles k nao falassem sérvio..
De facto, Quiñonez é da mesma terra do Caicedo. Gracias pelo alerta, foi uma confusão de bandeiras. Está rectificado.
O que tu nao sabes e que o Tavares e o Tanev eram donos de tascos rivais em Chaves e na altura isso criou muita celeuma no Balneario...Bulgaros para um lado, Croatas para o outro e o Paulo Alexandre no meio tudo acabou bem porque tambem esta la Jesus que com a ajuda de Manuel Correia sanou as divergencias. O Tanev tem agora uma Casa de Pasto em Torre de Moncorvo se nao me engano.
Quanto ao Nelinho nao era Portugues mas sim um imigrante ilegal Indiano, Rajit de seu nome. Ficou Nelinho gracas ao BI falso.
Obrigado por teres mencionado o Rui Mancio um dos ultimos verdadeiros "misters" do futebol nacional ele e o Calisto
Que post delicioso.
Não sabia de todo que o Caci das Pizzas tinha um close lusitano, mas faz todo o sentido: O Ben-Hur não quer fazer uma corrida de quadrigas sozinho.
Ahhh Slavkov, espalhou magia no relvado como o seu sósia num Dirty Dancing longínquo...
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